sábado, 10 de setembro de 2011 - 18h19
Atualizado em
sábado, 10 de setembro de 2011 - 18h25
Ginecologistas negligenciam lésbicas,diz ONG
Médicos deixam de solicitar exames que previnem o câncer de colo do útero porque elas não tem relações sexuais com homens
Lésbicas no Rio de Janeiro denunciam que médicos deixam de solicitar,
durante consultas ginecológicas, o exame que pode ajudar a prevenir o
câncer de colo de útero porque elas não mantêm relações sexuais com
homens.
A ONG (Organização Não Governamental) Grupo Arco-Íris
informou que constatou o problema na rede de saúde pública e privada da
capital fluminense. Na pesquisa qualitativa Atendimento Ginecológico
diante de Práticas Lésbicas e Bissexuais, todas as 20 mulheres
entrevistadas em 2010 relataram que depois de revelada sua orientação
sexual os médicos não pediram o exame.
"Os profissionais não
reconhecem vida sexual entre duas mulheres", afirmou a coordenadora da
pesquisa e uma das diretora da Arco-Íris, Marcelle Esteves. "É
assustador porque só se pode fazer a prevenção do vírus de HPV -
sexualmente transmissível - a partir do exame ", destacou a diretora,
lembrando que mesmo sem se relacionar com homens, as lésbicas fazem
sexo.
O levantamento constatou também que entre as lésbicas, as
que têm identidade mais masculinizada são menos submetidas ao preventivo
que as demais. "Os médicos não pedem o exame e não sabem nos aconselhar
sobre o risco de transmissão de DST (doenças sexualmente
transmissíveis), como o HPV. É sempre a mesma coisa", reclamou a
estudante Fabiana Ormonde.
Diante do problema, o Fórum de
Mulheres Lésbicas e Bissexuais do Estado do Rio quer que o foco das
campanhas sobre DST e aids não seja apenas os travestis e homossexuais.
Para as ativistas, é preciso divulgar mais informação sobre a
transmissão de DST entre mulheres que fazem sexo com mulheres e
aprofundar projetos de sensibilização com as secretarias de Saúde.
O
fórum também defende a distribuição de preservativos específicos para
sexo entre mulheres, mas que ainda não são produzidos em escala no
Brasil. "Em uma fábrica de São José de Campos (SP) desenvolvemos com
dinheiro de uma fundação internacional um protótipo com base em modelos
dos Estados Unidos e da Malásia. Vem sendo aprovado", disse Marcelle.
Com
a capacitação de servidores em clínicas de Saúde da Família, a
Coordenadoria da Diversidade Sexual da capital fluminense disse que
precisa primeiro assegurar o atendimento à população de gays, lésbicas e
travestis (LGBT) nos postos de saúde. "Nesse primeiro momento, não
pensamos nisso por uma questão de atribuições", disse o coordenador do
programa, Sérgio Camargo.
A Secretaria Municipal de Saúde
reafirma que não existe motivo para os médicos não pedirem o preventivo
às lésbicas. Gisele Israel, da Gerência do Programa de Aids, atribui o
problema ao preconceito e ao desconhecimento. "Como os profissionais não
passam por uma proposta de qualificação com um olhar para o diferente,
os serviços se constituem sem um olhar apurado".
O superientende
de Vigilância Ambiental e Epidemiológica da Secretaria estadual de
Saúde, Alexandre Chieppe, confirma que mesmo com capacitação não é fácil
mudar a rotina do atendimento. "Capacitamos os gestores municipais, a
questão das lésbicas está inserida nos programas de saúde da mulher,
mas precisamos romper paradigmas".
Segundo os gestores ouvidos
pela Agência Brasil, a produção de preservativos para o sexo entre
mulheres ainda é inviável porque o produto não tem as certificações
necessárias.